segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Umas horas na vida de um Imperador (II)

Por Matemaníaco

Ganymede, lua em torno de Jupiter [1:39:4]

Como todas as noites, tenho as minhas concubinas no palácio carnal... Hoje não é diferente!
Só que hoje, apetecia-me mesmo ter a Troy. Minha conselheira e esposa do capitão da guarda, Bat Solo.
Sempre que brinco com ela, ela responde-me que é comprometida. Isso não é resposta!
Bem, se calhar, afinal até é!
Minha culpa! Foi a minha concubina preferida durante anos.
Um dia, dei-me ao trabalho de ver a ficha dela...e de várias outras.
Ofereceu-se para o lugar, tal como tantas outras cujo sonho é servir o imperador.
Passou nas provas de selecção, e deu entrada no meu harém pessoal.
No entanto, era diferente de muitas. Tinha formação multidisciplinar...
Era tremendamente inteligente e interessante. Podia ter sido uma cientista, uma médica, militar...
Com aquele currículo, como é que uma mulher pode querer ser concubina?
Segundo ela, era a única forma de poder que eu reparasse nela.
Tinha uma paixoneta por mim desde a adolescência.
Uma noite perguntei-lhe se queria ser minha conselheira.
Ela respondeu-me que queria ser minha mulher. Que morria de ciúmes de todas as outras concubinas.
Respondi-lhe:
"Sê minha conselheira. E um dia esse teu desejo pode concretizar-se."
Ela aceitou. Os primeiros dias foram péssimos, mas ela aguentou.
Uma concubina nunca tinha subido tanto na vida.
Mas ela aguentou firme, perante a hostilidade de outros meus funcionários.
Acabei por pedir a Solo que tratasse da segurança pessoal dela.
Durante vários meses, Troy demonstrou o seu valor. Suas sugestões na gestão do império destacaram-na perante todos os outros, e tornou-se popular, principalmente no seu paleta natal, Júpiter.
A minha admiração por ela cresceu tanto que me esqueci que eu tinha um harém pessoal.
Jantávamos juntos quatro dias por semana... Até ao dia, em que num desses jantares lhe disse que gostaria de passar mais tempo com ela.
Foi a primeira vez que ouvi:
"Senhor, eu sou uma mulher comprometida."
Aquilo atingiu-me como um relampago... mas ela, continuou.
"Solo esteve sempre comigo nos últimos anos. Tem passado mais tempo comigo numa semana do que o senhor em meses. Percebi que sou apenas uma serva de vossa magnificência, não uma companheira."
Mais uma vez, não consegui deixar de admirar a coragem dela. De facto eu mereci ouvir.
Qualquer outra pessoa, no mínimo seria expulsa do palácio.
Eu podia acabar com aquilo ali na hora, mas, o que saiu da minha boca foi:
"Compreendo. Posso continuar a contar consigo como minha conselheira e minha amiga?"
Ela olhou-me nos olhos e perguntou:
"Há algum motivo para as coisas mudarem?"
Sim, haviam milhões de motivos... mas mais uma vez o que me saíu da boca foi:
"Não!"
Até ao fim desse jantar não se disse mais nada.
Assim que ela saíu chamei Solo.
"Sim meu senhor?"
"Tu, voltas para o teu antigo posto de Capitão da Guarda, e a tua primeira ordem é, manda reabrir o meu harém!"
"E Troy?"
"Continua como minha conselheira, e se um dia quiserem, tu e ela podem casar, e terão a minha benção."
"Senhor... Casámos há um mês atrás."
Porra! Apeteceu-me mesmo matar o gajo!
"Tens as tuas ordens!"
Fiquei sozinho naquele enorme salão... Era a segunda vez que uma mulher se me escapava por entre os dedos.
Peguei no telemóvel e liguei para o Laboratório de Pesquisas.
"Abram o micro-wormhole, vou enfrascar-me à TASCA".
Desde essa altura que chego bebado ao harém.

Hoje senti particularmente a falta da Troy de outros tempos.
De repente, numa questão de segundos, vejo a minha frota mãe a sair do HiperEspaço, a despejar todos os recursos à minha frente e seguir para o hangar para manutenção.
É algo impressionante de se ver.
Enquanto caminhava pelos corredores do palácio ouvia as vozes das concubinas lá à frente... disputavam-me!
Meti-me na cama...e dormi por algumas horas.
De repente soam os alarmes. Olho para o meu comunicador e vejo que foram detectadas sondas hostis a aproximar-se de Ganymede e Júpiter.

"Mover frota para Júpiter! Quando lá chegar, as sondas já terão passado e não detectarão a frota!" grito ao telemóvel.
A frota parte...deixando os recursos, que foram detectados pela sonda!
Mas que dia de merda!
Assim que as sondas se afastam do planeta dou ordem para o regresso da frota, enquanto corro para o centro de comando. Ouço a IA que gere a base lunar em Ganymede:
"Senhor, temos uma frota hostil a dirigir-se para cá."
"Origem?"
"A mesma das sondas: [1:38:6]"
"Manda esta mensagem ao senhor: Não há nada para ti aqui."
Ao fim de alguns segundos, a frota hostil voltou para trás.
Segundo minhas instruções, os meus cargueiros pegaram nos recursos e mantiveram-se no hiperespaço até o regresso das 7 frotas de recicladores que tinham partido ao serviço da aliança.
 Assim que as sete frotas regressaram, os cargueiros saíram do hiperespaço, e houve fusão de frotas.

Solo aproximou-se de mim e disse:
"Sabe, um dia eu gostaria de partir numa missão de exploração."
"Solo, se não fosses casado com Troy talvez, e só talvez te deixavasse partir."

"Se o senhor fosse esperto, deixava-me partir. Se eu desaparecesse, Troy ficava livre para si."
Fiquei sem palavras. Olhei-o fixamente e acabei por lhe dizer.
"Solo, justamente por seres o melhor para Troy é que não te deixo partir, pelo menos, sem ela."
"Obrigado senhor! Tirou-me um peso de cima senhor! "
"Eu jogo limpo e perdi...Ela nunca me perdoaria! És um excelente capitão."
"Obrigado senhor!"
Vou para a TASCA. Qualquer coisa, avisa-me."


E enquanto me dirigia para o laboratório de pesquisas para me abrirem um micro-wormhole para a TASCA pensava:
"Otário... sou mesmo mesmo otário!"
Mas bem bem lá no fundo, mais fundo que o local mais fundo de todos os universos, eu sabia que tinha agido correctamente.


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