segunda-feira, 22 de outubro de 2012

As aventuras de Capitão Lagrange - Capítulo 3 : Os outros ( parte 2 )


por Matemaníaco
(Continua daqui)

“A contactar, espere... beeep”
Lagrange esperava impacientemente.
Passado um minuto o computador diz:
“De momento a Dra Boavida não está disponível.”
-Obrigado na mesma”
Lagrange olhou para o cacifo mal fechado. Numa das estantes estava um tablet, com uma cópia de “O império de may”.
“Hara, para que raios queres que eu leia isso? Nunca fui homem de ler.”
Lagrange levantou-se, foi buscar o tablet e voltou para a cama.
“Será que ainda não existe isto em filme?”- Pensou.
De repente o computador avisa:
“Comunicação a chegar. Glorie L. Boavida. Atender?”
-”Sim!”
-David? Tentaste contactar-me?
-Sim, Glorie, tentei. Eu estou com um problema sério com a minha NIA.
-Que tipo de problema?
-Eu, beijei-a. Ela beijou-me de volta, chateou-se comigo e desligou-se...
-A sério? Tu fizeste mesmo isso? Isso costuma funcionar com as tuas conquistas?
-Funcionou em cerca de um terço delas.
-Tu tens isso contabilizado? Não acredito!
-É o que acontece quando se serve muito tempo o Imperador Matemaniaco.
-Não é nada que eu não esperasse de ti. Ela deve ter activado um protocolo de protecção de 6 horas. Durante 6 horas não a conseguirás ligar. Trata-a como uma pessoa, não como um objecto.
-Ela não deve ser a mulher da minha vida, visto que tu existes. A tua bisavó é humana certo?
-Sim, é.
-Não me podes dizer quem é?
-Nada de atalhos. Descobre por ti mesmo.
-Porque foram dar personalidades completas a IAs?
-No meu tempo, os últimos 50 anos as IAs “de personalidades completas”, como tu chamas, preservaram a sanidade mental de muita gente, e foram indirectamente responsáveis pela redução de doenças e criminalidade nos mundos onde foram usadas.
-E contra-indicações? Por exemplo, um esquizofrénico...
-Não te preocupes com isso. Preocupa-te contigo! Se voltas a armar-te em conquistadorzeco a tua NIA pode até reduzir-te o tamanho da tua masculinidade.
-O que queres dizer com isso?
-Quero dizer que a NIA é para ser bem tratada e respeitada.
-Pois, a sábia já me tinha dito isso.
-E mesmo assim tu...
-Caramba, puseram-me um mulherão à minha mente e eu sou obrigado a negar os meus instintos mais básicos?
-Tem juizo David. Ela pode estar na tua mente mas ela é realmente apenas um software altamente sofisticado a correr em nanites. Tudo nela é fabricado.
-Eu não consigo deixar de pensar nela como mulher...
-Podes até usá-la como teu brinquedo, mas isso vai ter um preço bem alto, que eu garanto que não vais querer pagar.
-Porque me deste uma coisa assim?
-Porque tu precisas.
-Posso viver sem estas nanites?
-Não. Tu não fazes ideia do estado em que estavas quando chegaste cá. A injecção que te dei no hospital não foi a única. Levaste dezenas de injecções de nanites para te reconstruir o corpo todo.
Nanites que podiam ter sido usadas noutras pessoas. A IA que tens instalada tem como principal função a manutenção das nanites e do teu organismo.
A NIA, foi criada assim que activaste o tutorial,e é um upgrade à IA que já estava instalada. O downgrade é impossível.
Por outro lado a NIA é fundamental para detectar desvios na tua personalidade que possam ser sintomas de algum problema médico mais sério.
Trata-a dignamente.

-Ela pode fazer-me mal?
-Não te vou responder a isso. Achas que estás em situação de arriscar?
-Merda.
-Vá. Eu tenho pacientes para tratar. Volta a ligá-la quando for possível e não voltes a fazer outra.
-Tchau, e obrigado Glorie.
-Tchau David.

A comunicação foi desligada.
Lagrange pegou no tablet e passou horas a ler “O império de may”.
Por volta das 14h16m, Lagrange pousou o tablet.
- NIA. Liga-te.
“Sim David, que pretendes?”
“Conversar contigo.”
“Sobre?”
“Eu nunca tive uma IA na minha mente antes. Peço-te desculpa se estou a ser um imbecil”
“Eu também nunca estive na mente de ninguém. Aliás, até ter sido ligada nunca conheci ninguém, de espécie nenhuma. Nunca teres tido uma IA na tua mente antes não é desculpa.”
“Pois não, mas preciso mesmo de estar bem contigo.”
“Eu admito que gosto de ti, mas não nesse sentido. Incomoda-me o facto de teres tantas ex’s, e a forma como trataste várias delas. Eu sei tudo sobre ti, não te esqueças.”
“A primeira pessoa que sabe tudo sobre mim, não gosta de mim. Obrigado. Agora sinto-me mesmo miserável”
“Que te sirva de lição. Que andaste a fazer aos teus olhos? Precisam de tratamento especial.”
“Diz-me, a tua voz, a voz que eu ouço na minha mente, também foi sintetizada para mim?”
“Sim, foi. Também queres que eu a mude?”
“Não. É perfeita!”
“Estiveste a ler?”
“Sim, o império de may.”
“Pelos teus sinais vitais, eu sei que sentes que gostas mesmo de mim, e que só queres resolver isto de qualquer forma.”
“Sim. Nunca tive uma situação destas na vida.”
“Vamos manter-nos amigos?”
“Sim, por favor. Mas diz-me, porque me beijaste de volta?”
“Nunca tinha beijado ninguém. Foi o meu primeiro beijo. Foi uma experiência agradável, obrigado!”
“E não queres repetir?”
“Ficou gravado nos meus ficheiros. Posso repetir quando me apetecer”
“Esquece.”
“Não almoçaste. Precisas de comer.”
“Não me apetece!”
“Não faças birras! Vai comer!”
“A sério, eu estou bem.”

“Não, não estás não. Precisas de comer!”
“NIA desliga-te”
NIA desligou-se. Pegou no tablet, mas já não conseguia concentrar-se na leitura.
Guardou-no no cacifo. E foi em direcção ao bar.
-Uma “Estrela da Morte” se faz favor.
-Peço desculpa, não faço ideia do que seja.
-Então, uma vodka preta.
-Lamento, por cá só temos vodka normal.
-Que seja.

Ao fim de 5 copos de vodka normal, Lagrange sai do bar e a meio do corredor grita aborrecido.
-Merda de nanites, nem deixam um gajo embebedar-se como qualquer pessoa normal!
Alguns tripulantes olharam para ele.
Lagrange afastou-se em direcção à porta 2A.
“NIA liga-te”
“Que se passa David?”
“Lá em baixo, eu desliguei-te e pouco depois perdi a consciencia porque as nanites estavam desligadas. Cá em cima eu desliguei-te e a vodka continuou a não fazer efeito. Explica-me isso”

“Lá em baixo desligaste uma forma menos sofisticada de mim. Eu só fui criada quando ligaste o tutorial. Se me desligas a mim, não desligas as nanites.”
“Como é que eu posso desligar as nanites?”
“Se o queres fazer por causa de mim, não te digo. Mas prometo que não te incomodo.”
“Não consegues fazer isso... tu não sais da minha mente estejas tu ligada ou não.”
“Desculpa...”
“Preciso mesmo de saber como desligar as nanites.”
“Lamento, sem me dizeres porque queres desligar as nanites, não te posso dar essa informação!”
“Quero poder beber e sentir o efeito da bebida de vez em quando.”
“Razão válida. Um dia, digo-te como. Não hoje.”
“Não gosto dos comandos para ligar-te e desligar-te... posso mudá-los ?”
“Sim, podes, qual deve ser o novo comando para ligar-me?”
“NIA... Eu não gosto mesmo desse verbo. Para mim és uma pessoa! Muda isso para sei lá...«Estás aí NIA?»”
“Comando mudado. David, eu não posso alterar aquilo que eu sou.”
“Eu sei.”
“Qual deve ser o comando para desligar?”
“Tchau NIA”
“Comando mudado.”
“Tchau NIA”

NIA desligou-se.
De repente Lagrance ouve:
“Boa tarde capitão Lagrange. Está a receber uma nanocomunicação do comando astral. A sua missão é de reconhecimento. Deve seguir com o cabo Gonzalez no caça pesado A84 em direcção ao sector 45-12.
Foram detectadas estranhas variações de energia na zona, e os nossos sensores não conseguem analisar a região.
Deve comunicar e transmitir qualquer situação anómala.
O comando é seu.”
Lagrange atravessou a porta 2A, passou por um tunel transparente de energia, entrou no caça, vestiu o equipamento de voo e sentou-se ao lado do cabo Gonzalez.
-Boa tarde amigo. Vamos lá ao nosso passeio.
-Sim meu capitão.

O túnel foi desligado. Então a nave partiu a toda a velocidade para o sector 45-12.
Após uma hora, o local tinha sido todo sobrevoado duas vezes
- Variações de energia? Isto parece uma selva sem animais.
-Concordo senhor, aqui não parece haver nada. É estranho não se registar qualquer tipo de fauna.
-Também concordo.

De repente o caça é atingido por um míssil, e explode.

(Continua)

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